agosto 13, 2007

Negócios da China... aqui no Brasil

M. (vamos chamar-lhe assim) foi meu colega de liceu. Casou-se com uma pequena bonita lá da terra, teve o casal de rebentos da praxe e, à custa de muito suor e lágrimas (segundo ele), lá foi construindo o seu pézinho de meia. Os filhos, já grandes, são bons alunos, a miúda a fazer-se à faculdade (caso inédito na família), o miúdo convidado pelo Sporting a ingressar no plantel de esperanças (é assim que lhes chamam?), a empresa de comércio de pescados a dar os seus frutos – já tinham cada um o seu carrito, ele um Mercedes, ela uma carrinha, telemóveis topo de gama, televisão digital, etc – , ele tratava dos clientes e das entregas, ela da papelada. E a coisa ia andando.

Até que decidiu expandir os seus negócios, ouviu dizer que era bom investir no Brasil e por cá apareceu, pelas bandas de Fortaleza, com recomendações para falar com “o maior armador do Nordeste”, um português, vamos chamar-lhe A., estabelecido em Camocim, grande (?!) porto de pesca no litoral do Ceará.

Ora, no dia em que o M. era esperado com pompa e circunstância, recomendado ao A. como “o maior comerciante de pescados de Lisboa e Vale do Tejo”, estávamos nós a preparar-nos para almoçar com ele, A., o tal “grande armador”, precisamente em Camocim. Há semanas que o ouvíamos falar daquele portento do comércio de pescados, secreta esperança para alavancar o seu próprio negócio, em sérios riscos de afundar (passe a ironia barata, mas irresistível).

E, qual não é o meu espanto, vejo a uma mesa o M. Olhámo-nos, primeiro com um vago reconhecimento (Eu conheço este de algum lado...), depois com incredulidade (Não pode ser!), e depois com um muito mal disfarçado incómodo (Será que ainda estou a tempo de disfarçar? Não. Vou ter que falar. Que seca.) – Mas o que é que tu estás aqui a fazer?!!! – enfim, o teatro costumeiro...

Entretanto, o A. mirava-nos como se fôssemos ET’s, raciocinando a todo o vapor – dava para ver o fumo a sair-lhe das orelhas – Conhecem-se bem. Isto pode ser bom e pode ser mau. Se ela fala, tou lixado. Por outro lado, ela pode dizer-me tim-tim por tim-tim quem ele é. Mas se ele conta metade da imagem que eu passei daqui, tou f...

Para resumir a novela, abstive-me de fazer comentários a qualquer um deles. Reclinei-me, apreciando o sempre interessante espectáculo de dois aldrabões de feira a enganarem-se um ao outro. Mereciam-se. Ficaram amigos do peito, como não poderia deixar de ser: pássaros da mesma plumagem reconhecem-se logo. E era vê-los, ridiculamente armados em teenagers, a pavonear-se pela beira-mar ataviados à moda: t-shirt justa cingindo a barriguinha típica de quarentões bem de vida, ténis prateados e bermuda pelo meio da canela, que lhes valorizava tanto o metro e sessenta e cinco de altura...

Quem ganhou o campeonato das aldrabices, ainda estou para saber. Parece-me que nenhum deles. O A. voltou a Portugal, onde consta ter um empregozito nada condizente com a grande frota de pesqueiros de que se intitulava “dono”, mas que nunca foram dele: eram alugados e ele não pagou sequer o primeiro mês de aluguer, assim como não pagou nunca o armazém, a fábrica, os dois jipões topo de gama, a renda da casa, as contas atrasadas de vários restaurantes e do supermercado, os fornecedores e, até, os salários, os impostos e a segurança social dos duzentos empregados.

Quanto ao M., pelo menos foi esperto o suficiente para não se fazer sócio do A., pelo menos no papel. Ainda vive em Camocim. Usufruiu, enquanto não lhos tiraram, da casa, dos jipes e do crédito nos restaurantes, e actualmente namora uma brasileirinha feiota, mas endinheirada e supostamente de boas famílias, cuja mãe, para mal dos seus pecados, não vai em cantigas e exigiu ao pretendente, como condição sine qua non para o casamento, provas cabais da grande fortuna que ele (ainda) alardeia ter em Portugal.

Quem perdeu mais nesta história foi a desgraçada da mulher do M., que ainda hoje, meses depois do marido ter largado Portugal de vez com todo o dinheiro que havia nas contas pessoais e da empresa (disse-me ela que nem a conta do telemóvel ele pagou, e era pra mais de mil contos!), trabalha doze horas por dia a servir à mesa num restaurante para pagar a hipoteca da casa onde mora, feita sem o seu conhecimento, as contas da faculdade da filha, da academia do filho e das dívidas ao IRC, que a carrinha e o Mercedes já foram retomados há muito por falta de pagamento...

7 comentários:

ana v. disse...

E quem mais ganhou foi a mulher do A., que se livrou dele de vez!

Anónimo disse...

Ai, ai... uns tristes os dois!!!
LOL

Amiga, tás com tudo!!!

Beijo no coração

Maria Feliz disse...

Olha... fiz um comentário anónimo!
Sorry

Maria Feliz disse...

Só mais uma coisinha... a imagem está perfeita:)

AL disse...

mad
Que tristeza!
Conheço uma história semelhante, será que é a mesma!!!
Beijinhos

Mad disse...

Ana, NÃO TENHAS A MAIS PEQUENA DÚVIDA!

Flora, não está?

Tia AL, nããããããooooooo!

Beijos às 3.

Maria Feliz disse...

Flora está, sim!!! O que queres meu abrunho?
Este texto está de chorar a rir!

Gosto de ti aos magotes, sabias?

Beijos