agosto 13, 2007

E você? Já poluiu hoje?

“Uma verdade inconveniente”, o documentário produzido por Al Gore em 2006, foi o principal responsável pela mudança radical do clima político da história recente. O seu argumento central é que a vontade política é, em democracia, um recurso renovável. Daí para a conversa das ruas, foi um pulo. Assistimos hoje à consciência generalizada de que devemos cuidar do planeta, e rapidamente, ou corremos o risco de não deixar nada em herança às próximas gerações.

Do instante em que acordamos até à hora de ir para a cama – e até enquanto dormimos –, todas as nossas actividades têm impacto directo sobre o meio-ambiente. Apesar de não ser humanamente possível não poluir – para isso basta respirar... – o primeiro passo para minimizar as consequências das nossas acções é ter consciência delas, o que nem sempre acontece. O segundo é achar alternativas que possam ser eficazes para algumas dessas acções.

A Time Magazine brasileira fez uma reportagem muito interessante, cobrindo a rotina diária de uma dentista de 36 anos de São Paulo, com o objectivo de mostrar de uma forma simples como até as acções mais corriqueiras do dia-a-dia dos 6,5 bilhões de habitantes do nosso planeta deixam as suas marcas, às vezes profundas, no meio-ambiente, e sugerir algumas acções correctivas. Eis a reportagem resumida:

6:30 – Isabel acende as luzes da casa-de-banho, toma banho e escova os dentes. A energia consumida veio provavelmente de uma barragem, cuja construção causou a desmatação de áreas extensas, matando plantas e animais. Os 15 minutos do seu banho significaram cerca de 170 litros de água pelo ralo abaixo, o suficiente para matar a sede de 85 pessoas num dia. Matérias-primas, água e energia foram usadas para produzir a escova e a pasta de dentes, e as pilhas da escova eléctrica usam metais que podem contaminar o solo e o lençol freático, por isso devem ser deitadas fora apenas em sítios apropriados.

7:00 – A dentista veste roupa de algodão e fibras. Produzi-las emite gás causador do efeito de estufa. Sai do seu apartamento rumo ao seu consultório, a 8 quilómetros dali, e vai no seu carro. Mas usar um transporte colectivo emite dez vezes menos gás do que andar de carro sozinha. Ela podia ter optado por um carro a álcool, já que o gás carbónico gerado pela queima do etanol é reabsorvido pela cana-de-açúcar, planta da qual ele é produzido.

8:00 – Já no consultório, Isabel fala ao telemóvel e trabalha no laptop, sem imaginar que, para chegarem às suas mãos, esses equipamentos podem ter desalojado gorilas em África. A columbina-tantalita, minério usado para fabricar os dispositivos que controlam o armazenamento de energia dos aparelhos, é encontrada na República Democrática do Congo, e o World Watch Institute aponta a sua extracção ilegal como uma das principais causas da destruição das florestas onde vivem os gorilas.

11:30 – Antes do almoço, Isabel vai até ao ginásio. Lá, compra uma garrafa de água mineral, sem se lembrar que o seu transporte da fonte para os centros urbanos gasta combustível e que a produção de 1 milhão de toneladas de garrafas plásticas emite 732.000 toneladas de gás poluente responsável pelo aquecimento global. Além disso, o plástico leva 400 anos para se decompor.

12:00 – Hora do almoço. A primeira garfada já é um pesadelo para os defensores do meio-ambiente: palmito. A sua extracção intensiva coloca em risco a sobrevivência da palmeira, pois cada planta dá apenas um palmito, que causa a morte da planta ao ser extraído.

18:00 – 8 quilómetros e 10 litros de gás carbónico depois, Isabel estaciona o carro na garagem. Antes do jantar, separa o lixo reciclável, mas ela é uma excepção: boa parte do lixo no país não é separada nem reciclada. Um desperdício de recursos, considerando que 30% dos resíduos poderiam ser reciclados.

22:00 – Antes de se deitar, vê televisão. Como todos os seus aparelhos electrónicos estão sempre em stand-by e não desligados da tomada, além de responderem por cerca de 15% da sua conta mensal, a energia que consomem quando não estão a ser usados é completamente desperdiçada.

(fonte: Time Magazine)


Aqui no mato onde vivo, das poucas coisas que posso fazer é composto natural com lixo orgânico – que faço –, mas ainda sonho em ter colecta de lixo a menos de 30 kilómetros de casa. Quanto à sua reciclagem, talvez um dia. Deixo aqui o meu humilde contributo.

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