maio 24, 2007

Stop all the Clocks

Ora cá estamos. Eu, a máquina infernal da minha (outra) irmã e um belo de um Grant's on the rocks, os três juntinhos à janela com vista para o campo, a ver se sai alguma coisa de jeito. Sim, porque isto de ter uma irmã publicada e um pai que escreveu a letra do fado (o Cavalo Russo) mais conhecido do planeta é um "bocadito" inibidor. Mas isso agora não interessa nada, como diria a tal personagem de televisão de há uns anos.

A minha Mãe morreu há quatro dias e foi como se me faltasse o chão. Estou ferozmente a tentar habituar-me à ideia de que nunca mais a vejo, de que não está se eu precisar dela, como sempre esteve. E a tarefa parece-me completamente impossível.

Ainda me parece absurdo que o sol tenha nascido nestas 5 manhãs, que os pássaros continuem a cantar como se não fosse nada com eles, que as flores e as árvores (principalmente as do páteo, a maioria plantada por ela) não tivessem murchado, que à Fum, a sua boxer de 11 anos (tão amada que era como se fosse a minha "irmã" mais nova), não lhe tenha dado um badagaio, apesar das ameaças... enfim, que o planeta continue a existir tão paulatinamente.

Como é que é possível?

Consolam-me as palavras de Auden (mesmo correndo o risco de transparecer a minha cultura de almanaque, ou, como se diz hoje em dia, da TV Guia), do poema Funeral Blues, que todos conhecem. Perdoem-me os puristas, mas vou trocar os he pelos she:


Stop all the clocks, cut off the telephone,
prevent the dog from barking with a juicy bone.
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let airplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message She is Dead;
Put crêpe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
She was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last forever: I was wrong.
The stars are not wanted now: put out everyone,
Pack up the moon and dismantle the sun,
Pour away the ocean and sweep up the woods;
For nothing now can ever come to any good.
Mãezinha, até sempre. Havemos de nos encontrar, no Céu (duvido, a não ser que continue a rezar por mim, como sempre fez) nos meus pensamentos com certeza...
... ou, quem sabe, neste blog, que isto das tecnologias tem que se lhe diga mas ela não era nada avessa a elas. Tivesse vivido mais uns anitos e macacos me mordam se não haveria de ter um blog!

11 comentários:

Mad disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maria Feliz disse...

Pulga do meu cão:
Ouve lá ... Flor-de-Estufa???? Porraaaaa. Se há coisa que eu não sou é "isso".
Ora bem, primeiro que tudo deixa-me dizer-te que a esta hora, já a tua querida mãe deu de caras com o meu saudoso pai, e rebolam a rir de tanta parvoíce que a gente escreve (no mínimo!)
Links com palavrinhas, a amiguinha explica: seleccionas a palavra, e clicas ("clicas" é giro, né?) naquele icone apaneleirado que parece um par de cornos. Got it?
Ó meninos, toca a dar uma ajuda à cachopa, faxavor!!!!
E uns caracóis na Lagoinha, bora?;)

Beijos

Mad disse...

Se a minha Mãe não fosse uma pessoa séria, aposto que ia achar um piadão ao teu Pai, que, diga-se de passagem, era uma brasa (sim, eu vi as fotografias: tomaras tu chegar aos calcanhares...). Apesar de seres a minha Flor-do-Inferno, és uma querida.
Bjs,

Mad disse...

Par de cornos? Não estou a ver...

Maria Feliz disse...

Gaja endoidecida:
Claro que não estavas a ver!!!
Mas com uma amiga, cheia de experiência na vida (como eu) chegaste lá, certo?
E os caracóis, hum? Isso é que interessa e não respondes...:(

E essa de me chamares de tua "Flor-do-Inferno" dava quase para uma monografia... mas é melhor não!
Qualquer dia ainda me chamas maconha:)

Beijos

Anónimo disse...

Não voltes para o Brasil, miúda. Vais fazer falta por cá...
bjs

João Paulo Cardoso disse...

Sobre o triste momento, já tinha comentado. Espero que haja força para seguir em frente.

Gostei do texto e estou de boca aberta com os comentários:

"ícone apaneleirado que parece um par de cornos" é só mais uma da Flora, essa granda maluca...

Agora, os caracóis da Lagoinha???
Isso é a 10 minutos de onde moro!!!
A fama chegou aí à Margem Norte?? E ao Brasil??

Sugiro ainda melhor: Os caracóis do "Nosso Café" no Pinhal Novo.
Já tenho um fio de baba daqui até ao chão só de pensar neles...

Bom fim de semana!

Mad disse...

Caracóis?
BORA, eu adoro marisco!

JP, aprenda algumas coisas importantíssimas sobre as mulheres ribatejanas: temos SEMPRE força para aguentar os reveses da vida e - quem sabe é esta a explicação -adoramos uma boa petiscada, de preferência regada a bom vinho.

E Ana (mana?), que remédio!!!

Maria Feliz disse...

JP:
Já ouviste aquela do "não há coincidências"? E eu para comer eu gosto do que é bom;) Qd lá for, ligo-te (se entretanto trocarmos números de telefone!)
E já agora "granda maluca"?!? Ó pá, de onde é que eu te conheço? Olha que não andámos todos na mesma escola!!! 'Tás a ouvir?;)

Mad:
Antes de mais, sorry por trocar mensagens com os teus comentadores - eu sei que isto não é uma página de chat, mas sabes como eu sou... estico-me, é o que é.
E mais não digo que estou com uma barrigada de marisco que não me posso mexer!

Mad disse...

Mas ninguém comenta o facto de eu ter chamado marisco aos caracóis? Se calhar acham que tremoços também é marisco!

Que gente tão esquisita...

tcl disse...

foi o teu pai que escreveu "O cavalo Russo"? jura! que giro. dentro do estilo ribatejo marialva, adoro esse fado.