setembro 06, 2007

Gostos não se discutem...


Algumas horas separaram a morte recente de dois ícones do chamado “cinema de arte”: Antonioni e Bergman. O meu respeito por eles é pelo facto de ambos terem seguido caminhos originais, mas confesso: mal conheço as suas obras. Também não tenho essa obrigação. Eles não precisam de mim: já estão para sempre estabelecidos em qualquer lista dos dez melhores cineastas do mundo.

E eu também não preciso deles. Nos meus tempos de liceu, em que era chique andarmos com livros de Nietzsche debaixo do braço (apesar de ninguém conseguir passar da segunda página), no único filme de Bergman que tentei ver no Quarteto adormeci ainda nos créditos de abertura, no meio de uma lista interminável de nomes suecos. Lembro-me vagamente de ver um homem de machado na mão e a dizer qualquer coisa parecida com “lkhcuwh weoituqoei yguissreedn”.

Gostos não se discutem. Também não vou ao exagero de gostar dos filmes do Jackie Chan, claro. Não obrigo ninguém a gostar dos filmes que o Hugh Grant protagoniza, portanto também já não deixo que me obriguem a ver secas neo-realistas italianas. E, convenhamos, a maioria das pessoas também não as viu. E aposto que essas mesmas pessoas, que nunca dedicaram um minuto sequer aos génios do cinema de arte, viram todos os filmes de James Bond – e adoraram.

Manuel de Oliveira é outro exasperante exemplo de tortura, digo, de cinema de arte. Alguém é capaz de me convencer que existe alguém na posse das suas plenas faculdades mentais que tenha conseguido ver os primeiros 30 minutos da Manhã Submersa sem ter berrado de frustração?

Não me envergonho disto, já passei essa fase. Além de James Bond e das xaropadas americanas da praxe, vi também todos os filmes de Hitchcock e Almodôvar que pude, dois cineastas também respeitadíssimos pelos mesmos intelectuais, mas que não fazem filmes que são testes de paciência movidos a tédio existencial.

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