Este restaurante não destoaria nem um bocadinho no meio do Bairro Alto, de tão ecléctico que é. É uma construção com 150 anos, como aliás todo o Porto das Barcas, bairro construído por portugueses no séc.19 à beira-rio. Era o atracadouro das barcas que traziam mercadorias do interior pelo rio Parnaíba, que deu nome à cidade, para serem vendidas noutras regiões, incluindo Portugal, para onde eram transportadas em vapores. Todo o bairro é constituído de casarões térreos de paredes grossas e de portas altas de madeira maciça com bandeiras de ferro no alto, alguns a cair, outros quase e outros (poucos) recuperados por comerciantes que têm aqui bares, galerias de arte e lojas de artesanato.
O restaurante é grande, sobre o comprido, com mesas grandes que dão para 6 ou 8 pessoas, ou para 2, se gostamos de estar à larga (é o nosso caso), e tem sete (!) portas duplas de madeiras pintadas de amarelo vivo abertas para a rua. As paredes interiores são verdes e o chão é de pedra. A decoração é composta de toalhas de chita às flores, centros de mesa compostos de velas, garrafas fininhas e altas cheias de pimentas multicoloridas em vinagre e um badalo para chamar a empregada, e nas paredes há quadros de pintores locais, que retratam os costumeiros peixes, papagaios e palmeiras, peças de artesanato feitas de palha e de conchas, e fotografias (boas) dos pontos turísticos da zona.
O ambiente é de um lounge, há sempre música bem calma, tipo Buddha Bar, a não ser quando é a Lúcia (a cozinheira), completamente temperamental, a escolhê-la, na ausência da Anne. E aí fica tudo estragado: ou é forrózada a partir, quando a Lúcia está bem-disposta, ou brega (músicas de amor pirosérrimas), quando ela está de candeias às avessas com o universo – e nessa altura, o melhor é não a contrariar ou arriscamo-nos a levar com um pano da loiça na tromba! Pior que o brega, o forró é o estilo de música mais horroroso do mundo. Estão a ver o pimba? É dez vezes mais barulhento, a música é sempre a mesma e tem letras ainda piores. Mas como nós já somos da casa, ela deixa-nos, muito contrariada, ouvir Caetano, Zélia Duncan, Bethânia – que ela acha “tão antchigo...”
Come-se bem, aqui. De crepes a pizzas, passando pelos pratos típicos - a peixada, o camarão com leite de côco, o peixe assado na brasa, as ostras cruas com limão, a picanha grelhada - é tudo fresco e bem confeccionado. A Lúcia é maluca, mas é uma cozinheira de mão cheia! Além disso - mais uma vez, privilégios de quem já é da casa – às vezes não nos apetece comer nada do que está no menu e vamos nós para a cozinha fazer uma sopinha de peixe, do nosso, claro!, um arrozinho de camarão (idem), uns camarões (dos grandes, do stock especial lá de casa) abertos ao meio e grelhados na brasa, com azeite, alho e piri-piri, ou com manteiga e uns pingos de limão, tudo regado a caipirinha nevada (batida no liquidificador) feita magistralmente pelo Antônio. A Lúcia observa, aprende e da próxima vez faz tudo sozinha - e bem!
A Anne vive aqui há pouco mais de um ano. É engenheira agrícola, conheceu o Antônio na Alemanha, depois de viajar pelo mundo todo, e decidiu vir para cá. Tem um visto de voluntariado (dá aulas de inglês a crianças carentes) e, além do restaurante, tem um jipe e dois buggies em que fazem passeios pelas praias, de Jericoacoara até aos Lençóis Maranhenses, e uma agência de turismo/loja de artesanato em que vende de tudo um pouco. Um dos projectos dela a longo prazo é fazer, num terreno grande que comprou junto à praia da Pedra do Sal, a cinco quilómetros de Parnaíba, uma espécie de “asilo de velhos”, como ela o chama, que é construir casas para os amigos, e os amigos dos amigos, virem morar depois de se reformarem. Uma espécie do que se faz no Algarve, mas só para gente conhecida.
7 comentários:
Ai, desculpem lá... Mas apetece-me espacá-los aos dois!!!
Eu sei, a inveja é uma coisa muito feia! Porra... estou a babar-me com tanta coisinha boa!
Só não choro porque almocei picanha com feijão preto. Não acalma as saudades, mas amaina a inveja;)
Beijos grandes
Reservem já uma mesa, ou talvez mesmo duas, nesse fantástico restaurante, porque não há nada melhor do que degustar esses manjares dos deuses, acompanhados por uma caipirinha e claro, de chinelo no pé!
Depois de vocês terem passado por Santo Amaro, depois de 5 anos de ausência, nada ficou como dantes. Foram os encontros e reencontros (o mundo de facto é muito pequeno!) e a malta a alargar os nossos horizontes blogistas. Mais, se já havia planos para Jeri, o que dizer agora: acho que, para além de mim e da Ana, já angariámos mais dois "voluntários". Atá lá, "keep in touch", porque nós também. Abraços para vocês dois
Depois de uma semana de ausência, seis textos "postados" num só dia?
Bom, já tenho que ler no fim-de-semana...
Vou comentar só o último, porque os homens conquistam-se pelo estômago:
Parece de facto um restaurante muito bom, mesmo com o paradoxo "excelente cozinheira/melómana forróbodeira"
Bom fim-de-semana.
Miguel e Flora, nada é tão bom como parece, a não ser os amigos! Até posso imaginar quem vão ser os "voluntários"... a coisa tá séria, hein?
JP, eu avisei que escrevo durante a semana e publico tudo no mesmo dia. Lá na minha gruta não há net, só quando venho à "cedade". E quanto à cozinheira, ela é uma artista e como todos os artistas, é temperamental.
Beijos
Madalena :-)
Beijufas aos dois ;-)
Joca
Cenoura, obrigada pelo abração virtual.
Beijões!
Olá a todos...me chamo Pedrinho Guitar, sou natural de Parnaíba (Piauí - Brasil), músico, produtor, arranjador e produtor de vídeo. Moro em Parnaíba e fico muito feliz quando alguém vem aqui e se sente bem. Adorei o post sobre o bar da Anne (sabor e arte) e pena que vocês não conheceram o fundador do Sabor e Arte: Zé de Maria (produtor cultural e "bluesman"...rs). Por isso na próxima vez (ou na primeira vez) que virem aqui, por favor, conheçam essa pessoa. Obrigado e abraços a todos. pedrinhoguitar@hotmail.com
Enviar um comentário