Astrologia para principiantes

Não, não faço parte do enormíssimo grupo de iludidos que acredita piamente que a posição que os astros ocupam no momento em que nascemos tem, de alguma forma, influência decisiva no project design da nossa personalidade. E muito menos na determinação do que foi, é ou será a nossa vida. Mas eis que chega Dezembro e tenho sempre o mesmo ataque de idiotite aguda: não resisto a comprar a porcaria da revista onde, juram-me a pés juntos, vou encontrar a chave do meu futuro, com o bónus da sempre tão cómoda isenção da culpa de ser como sou.

Sou Aquário de signo. Leão de ascendente. Ar de elemento. Cavalo no zodíaco chinês (Cavalo de Fogo, aliás, o que significa que se tivesse nascido chinesa no século 19 era logo morta à nascença). A minha carta do Tarot é o Mago. O meu número é o 8, segundo a Numerologia. Pelo que li, 2008 será sem sombra de dúvida, segundo a douta opinião dos cientistas de plantão no Laboratório de Astrologia da Editora Abril (que, como toda a gente sabe, é o braço clandestino do MIT), o ano d’A Minha Grande Viragem.

Já não era sem tempo! O Professor Doutor Frug assegura-me que, sendo aquariana, “a minha realidade de hoje não é a mesma de ontem e não será a de amanhã; abrem-se-me múltiplas possibilidades, tornando a cratividade mais vantajosa que o conservadorismo (...); a verdade íntima será o meu mestre, e eu preciso, efectivamente, de agir com sabedoria, pois poucas vezes poderei contar com tanta ajuda dos astros como neste ano que se inicia”. Mas atenção!, o meu ascendente, Leão, “pressiona-me para a instabilidade”, e ser Cavalo, e de Fogo, para cúmulo, “fada-me como sempre à cegueira provocada pela pressa de chegar”. A parte realmente boa, acrescenta ele, é que ser um 8 “me levará com calma a bom porto” e que o Mago “me vaticina clareza para a importante tomada de decisão que mudará a minha vida para sempre”.

Estou muito mais descansada!