agosto 23, 2007

Ousadias


Do outro lado do mar chegou-me um livrinho de poesia, uma “Ousadia”, no dizer da sua autora. Ando há uns dias a saboreá-lo, gulosa e deleitada, como se fosse uma iguaria. E é, já dizia Natália Correia que a poesia é para comer. E esta é deliciosa. E de chorar por mais, que o livrinho é pequeno. A autora é outra iguaria. É a minha querida Tia Manuela, já mencionada neste blog, e mãe da Micas, também conhecida por RV, minha não-tão-assídua (vai buscar!) comentadora.

E deixem-me que vos diga que esta é uma Senhora Tia. Cozinheira de mão cheia, ou não fosse da família (ainda me lembro das migas com entrecosto que comi na sua casa há bem pouco tempo), era grande amiga da minha Mãe e sua companheira de passeios e de tardes modorrentas e bem passadas, à conversa na pastelaria da vila. Apesar dos “140” anos (touché, Tia), é uma jovem de espírito: ainda não faz um ano andava por estas bandas encavalitada num buggy, com a filha e o neto, a descer dunas “com emoção”! Para o ano, prometeu-me, vem cá passar umas férias.

Sem a sua autorização – se eu pedisse, não ma daria por recato, portanto não peço... –, reproduzo aqui algumas “delícias”. E, a não ser que ela me diga com má cara que não, prometo mais do mesmo, de vez em quando.

O passado voltará (1986)

Quando oiço um guitarrista
A dedilhar uma guitarra,
Gostava de ser fadista
P’ra poder entrar na farra.

O seu trinar magoado
Às vezes faz-me pensar,
Se na verdade o passado,
Não vai de novo voltar.

Há quem diga por dizer
Que o fado antigo morreu,
Mas não o pode esquecer,
Quem por dentro o conheceu.

E quem o souber cantar,
Não lhe dê tom de lamento.
Cante sem nunca parar,
Mas cante com sentimento.

O fado não morrerá
Enquanto houver um fadista.
O passado voltará,
Pelas mãos dum guitarrista.

Orgulho de ser avó (1984)

Um Anjo do céu desceu,
Fez-se menino, nasceu
E uma benção nos trouxe.
Esse Anjo de Deus veio,
Seu chorar é um gorgeio
E o sorrir é muito doce.

Essa obra que é de Deus,
De mudar os Anjos seus
Em filhos dos nossos filhos,
São bocadinhos d’a gente,
Que nos deixam lentamente,
Como se fossem cadilhos.

Se tu soubesses, bébé,
Quanto aumentou a minha fé,
De nunca mais ficar só.
Saberás, porque eu o sinto
Que tenho orgulho e não minto,
Orgulho de ser Avó!

1 comentário:

Anónimo disse...

Minha querida,

Cá em casa, chegadinhos de férias, adorámos o teu post. A minha Mãe ficou mesmo contente. E vai responder-te.
Obrigada e beijos grandes
Rosarinho